31 de out. de 2009



A cidade inteira dormia...

E meu sonho,

ah, meu sonho...

Esse, agora,

eu não posso contar...

30 de out. de 2009


No sonho,
conheci tuas trilhas,
e teus lugares novos de todos os dias.
Reconheci teu poema no mar,
e tuas marcas leves na areia.
Teu cheiro se espalhava por todo o lugar que eu ia.
Agora,
vou desaguar daqui,
riscar novos mapas,
resolver afluentes,
resguardar as rotas,
resgatar as bússolas,
reconhecer as direções.
Vou por aqui,
e seja o que meu desejo quer.
Vou ancorar de paixão,
eu sei.
Mas não vou morrer nesse cais.
Na verdade,
sou um rio,
cheio de embarcações.

Só não faço a menor questão de t esquecer.





29 de out. de 2009

Não sou rimada, mas veio assim...

Não me queixo com o tempo.
Te quero em qualquer estação.
Mas fico desejando
que a saudade vente a contento,
que te abuse de vontades,
que te acenda o coração...
Quero que a minha falta te cause,
te amasse,
que me queiras mais e tanto.
E que minha ausência,
venha por um segundo e passe,
o abandono rápido alimenta o encanto !
Que eu sinta a tua calmaria
e saiba perceber teu temporal.
Te quero hoje,
amanhã,
e mais um dia,
Me traz teu doce.
Trago meu sal.

(ah, esse gosto da água do mar...)

Minha vontade foi cruel esses dias.
Primeiro, me estampou nos olhos toda a calmaria.
Depois, me arrasou como num temporal.

Fui um sol nessas noites frias,
fui céu negro pra acabar o dia,
fui a quarta feira de um carnaval.

Que seja
o bem que me quer.

28 de out. de 2009

A paixão te pega e te deixa assim.
Te ordena,
de uma forma tão descabida,
que faz rir os olhos.

A poesia te cobre de chance,
mas agora,
lá vem ela...

rindo do meu jeito,
de não saber pedir.

Vou pescar passarinho.
Depois solto todos dentro de mim.

eu perco o jeito
o olhar confessa oceanos

até já ensinei
mas nesse instante
desaprendi a nadar
vento bom é esse,
que deixa os cabelos nos olhos,
enche a vela do barco,
apaga e vela da mesa...

será que ele te sopra pra cá,
se eu pedir com jeitinho ?


27 de out. de 2009


Tem um tempo dentro de mim
que dura mais que tudo.
Parece que o tanto me traz de volta
e não tem fim.
Eu me reviro como onda,
me refaço como pedra,
tento me buscar como areia quieta,
quente de sol,
cheia de céu
e abandonada de gente.

Acho que vou ficar aqui.


No meu jeito,
coloquei mais mel e pimenta.
Vai ficar nessa mistura até amanhã.

...mas é o desejo de um beijo
que anda me adoçando a boca.

26 de out. de 2009

Photo by Dóris


Notei.
Anotei pra não esquecer.

... Achei aqui,
em mim,
uma fome,
um perfume,
um prazer prolongado,
um desejo esticado...

Minhas palavras,
sinto que andam mais afiadas de areia,
com mais cheiro de mar.

Tenho certeza que o beijo,
o próximo,
vai ser bem demorado,
mesmo que breve,
e que não vou mais beirar o imaginário sem sentir.

25 de out. de 2009

23 de out. de 2009


Ando tirando a roupa dos meus sentimentos.
Tenho acompanhado assim, essa nudez.
Guardo segredos meus, comigo.

É assim que extravaso.

Sem falar,
Que minhas idéias aparecem na tua tela,
o que me faz sentir mais perto.
Prezo por essa coordenação sem ordem.

A timidez do nú,
me devolve a ousadia de compor um todo.
Eu amo as estações mais quentes.

Sei que vou achar palavras escondidas dentro de mim.

22 de out. de 2009

Fica assim ó :
Jogamos o calendário fora,
começamos agora,
sem ilusão,
com o jeito mais leve que temos,
de maneira mansa,
livre,
com a exatidão dos grãos.


Creio no que vejo daqui...
Em seguida que vejo isso,
assim,
acredito que deva haver ,
um “fruto” de gosto muito bom.
E que meu jeito,
(ah,
esse meu jeito),
volte a ser de pimenta do reino,
sem arder.
Descobri que é doce
o jeito que a noite cai.
As coisas não se agravam só porque existe a escuridão...

A lua me conta a mesma coisa que o sol...
Se conhecem,
vivem,
conversam juntos,
e o que mais aproxima os dois,
é que são extremamente diferentes.
Creio no que vejo daqui...

Photo by Dóris


21 de out. de 2009


Quando silencio,
é quando permaneço mais inteira ainda.
A noturna forma de pensar tudo agora,
e não pensar em nada além.
Fico com o sorriso entardecido.
Quando silencio,
também percebo mais as luzes que evidenciam a rua.

E depois de rir e chorar muito,
com a intensidade da alegria,
Sou mais plena.

Ando completamente apaixonada pelas palavras.
O meu silêncio é cheio delas...






20 de out. de 2009


O dia quando amanheceu,
me entregou um calor de vida nova,
um brilho,
que há muito havia esquecido em algum lugar de mim...
O relógio havia parado,
na parede,
e não me cobrava mais o tempo que tinha passado,
me ajudava sim,
a vislumbrar outro tempo,
a me encantar com outras ondas,
a deixar meus olhos se perderem na frente do mar...

Agora ando assim,
como se nem sentisse mais o chão.
Sinto o que já cresceu cada grão,
que se reformou o solo em cada vento.

Agora eu escuto,
e deixo o ar me contar o que me preenche mais,
o que é verdadeiro,
o que não se esconde,
o que se mostra,
o que aguarda o tempo certo,
o que se mantém.

Eu tenho parte com o mar,
diria o caboclo que respeito e nem conheço.

DE MAR EM MAR


Rebentação dessas cordas.
De nós.
Dessas cópias de afetos.
De idas.
Eu a revirar cardumes.
De sonhos.
A ancorar em águas paradas.
Partidas.
A desaguar saudades.
De tempo.
A chorar pelo mar...


(nau dessas poças de chuva...)



Eu cortei as cordas.
Puxei as velas.
Me atirei no mar.
Me entreguei pra água,
e deixei lá todo o meu cansaço.
Agora,
aprendi a dirigir a vida.
Meus sonhos,
aprenderam a ser assim,
do meu tamanho.
As forças que não conheço,
estão mais leves,
as sensações e desejos,
deixam meu coração mais sereno :
entram pela minha pele sem medo.
Ah,
sinto de volta a tranquilidade,
a delicadeza,
meu ser mais leve,
minha liberdade de vento,
minha ilha sem solidão,
meu porto cheio de rebentação...

Ainda bem que cortei as cordas desse amor de náufrago.
Ainda bem que puxei as velas desse amor de louco...

17 de out. de 2009

Guri...

Eu tinha os livros nas mãos,
e uma vontade enorme de minha letra....
Tinha sede de botões de rosa,
subia sempre pro andar de cima,
e me atirava sem medo,
abraçada em cada sonho..
Haviam janelas,
e uma coragem mais presente que meus pulsos.
Não media muito os perigos,
e nada me acontecia.
Tinha essa ressonância com o bem.
Tinha quereres homéricos,
e esperas breves.
Não tinha paciência.
Eu tinha os olhos de pedra,
e construía armações de vidro.
Me protegia do mal que nem conhecia...

Hoje,
Trago tudo aqui, mas ainda menino,
crescido, mas menino...
Escrevo à lápis,
bebo rosas e girassóis,
continuo voando,
ainda adoro janelas,
amo o silêncio barulhento do meu coração,
minha ressonância ainda é muito mais que magnética,
minha paciência não conseguiu ficar longa,
enxergo além da lente de meus óculos,
o bem continua raro,
mas prezo mais ainda...


Ah, esse guri...

DEPENDE

Eu tenho uma fogueira
que desconhece a direção do fogo.
Só sei que vai queimando espaços,
caminhos,
pensamentos inteiros...


Depende do vento.
Eu nunca sei a direção do sopro.
Nem tu.

16 de out. de 2009


Ah, eu queria uma frestinha,
uma parada de horizonte,
um despertar de onda,
qualquer coisa...
Se fosse bem meu,
queria até UM segundo de sol,
desde que durasse a eternidade do céu.
Queria um risco,
uma pontinha,
meio fragmento.


Não...
Isso não é pedido que se faça...


Vou pedir um grão de areia.
Daqueles exatos.
Isso sim.

INSTANTE



Eu tenho sensação de saudade.
Não é coisa pequena não.

Mas não tem nome,
não tem rosto...
Sinto quando pisco lentamente

e imagino.

Vou longe, longe...
Aqui mesmo, da solidão da janela...


TEU OLHAR



Cada um com o seu olhar.
Há aquele de fome,
de quem come.
Há o olhar de paixão,
que invade, que arde.
Há o da moça que passa,
que é um olhar de cidade.
Há o olhar do traído,
do que ficou no chão,
do que ficou caído,
do que não teve coração.
Há o olhar do amante,
o olhar de ficção.
Há o olhar distante,
há o olhar ladrão.
Há o olhar que pulsa,
que é impulso,
que é pura ilusão.
Há o olhar de repulsa,
um olhar avulso,
olhar sem razão.
Há o olhar das meninas,
dos tios,
do Brique da Redenção.
Há o olhar dos homens,
das mulheres,
dos motoristas na contra-mão.

Eu quero o teu.





15 de out. de 2009

Eu dobro a esquina da palavra.
Jamais meço,
faço a curva.
Não aviso a direção,
não sinalizo.
Mas deixo meu cheiro,
meu hálito,
meu afeto,
minha atenção,
meu riso entardecido,
de canto de boca,
de olhar cheio.
Gosto da palavra esquisita,
abandonada.

Adoro simplificar minhas complicações.
Mas sei que não é fácil.


Águas de Outubro
(com todo respeito à Tom)



Não tenho pressa,
e se te interessa,
tenho um segredo guardado,
preso à sete chaves,
misturado às sérias claves...
De sol.
De lua.

Não há nada combinado,
mas há um plano arquitetado,
onde te trago à tona,
onde ressurges do meu fundo,
pra respirar num só mundo...
De sol.
De lua.

Não tenho urgência nenhuma,
morro de saudade, rôo unha,
tenho teu cheiro a me perseguir todo o dia,
preso aos sentidos da tarde,
seguro à noite que arde...

Eu te solto na avenida,
tu me socorre na rua...

muito mais quente que o sol,

bem mais ardente que a lua !


14 de out. de 2009


"Pecado"...


Eu permito a vista indecente,
e esse meu pecado de pensar de novo,
numa mistura de soluções e pernas,
num jeito de tentar resgate,
nessa esperança atrofiada que eu tenho,
de te esquecer pra sempre.
Faço com que me persigas no passo mais lento,
na pressa mais respirada...
Meu esquecimento vem com recados pra ser lembrado,
minha reza vem de joelhos.

Eu facilito a tua queda,
e tua total recuperação.

Eu permito a vista indecente
e esse meu pecado de pensar de novo.




O caso é que fico perdida.
Não caso comigo,
e não há acaso pra nada.
E fico assim,
na chuva,
com olhos de relógio,
com ombros de desvios,
com óculos de marquises...

Me entendo com o tempo que não passa,
com o caminho que não acho,
com a tua tentativa que não tem querer,
com a minha paciência,
tão cheia de limites...
Acho que não é por aqui.
E por ali, não quero ir.
Mas espera um pouco...
Vou dar mais um passo pro fundo.
. . .
Meu violão me entende.

13 de out. de 2009


Tenho uma procissão de pensamentos bons.
Acredito assim.
Deve ser meu barulho mais silencioso.
Meus olhos,
um dia,
hão de te dizer tudo que calo.
Mas presta atenção.
Não vou piscar
nem franzir a testa.
Vou te abrir o dia inteiro em mim.
Presta atenção...

Sou desvios e temperos.
E se montares um ser pra ti,
saiba que ele terá pedaços de mim.

É...
E saiba,
um dia li,
que “são os brinquedos inquebráveis
que quebram os outros brinquedos".

Tranquilize-se.
Não sou brinquedo,
e nasci quebrada por uma avenca,
um manjericão,
uma sálvia,
um alecrim...


FOTOGRAFIA

As imagens são anti gravitacionais,
flutuam iluminando salas,
corredores,
jardins,
janelas,
portas
e olhares.
Tuas imagens,
por mais preto e branco,
são sempre coloridas...
Por mais coloridas,
são sempre preto e branco...
Andam na terra,
no céu ,
no meio do fogo,
das águas...
Asa delta e estrada,
campos cheios de girassol,
por dentro e fora de tudo.
Clicam o que pisam,
o que sentem.
Tu és a tua imagem.
E são aceitas pelas tuas imagens,
Todas as palavras que podem ser sonhadas...




Queria um abraço assim.

10 de out. de 2009


O dia é mais que um retrato sim...
É mais do que o que fica na fotografia.

A gente tem é que aprender a fotografar...


Teu beijo...

Sou solo de flauta.
Sinto o silêncio quando me debruço na janela.
Morro de rir,
me desconcerto.
Te amo feito qualquer coisa muito boa.
Tenho essa fome,
essa urgência louca ,
de querer morrer pra sempre na tua boca.





DECLARAÇÃO



Por todos os desejos que andam comigo,
e os que me dominam quando penso em ti,
por esse cansaço prévio
e as lonjuras do pensamento,
declaro que meus cabelos brancos e rebeldes,
não se ajustam à “encomodação”,
justificativa de quase todos os casos de amor.
Declaro ainda,
que meus braços foram acariciados
à língua e boca,
enrijecendo músculos
e delineando formas,
sem que nenhuma força,
sem livre e espontânea vontade,
os fizesse cansados e doloridos.

Declaro ainda,
não haver nenhuma “rasura” no corpo,
só essa marca imensa no coração.





INVASÃO


Eu já me tornei um quadro no teu quarto.
E te assisto daqui,
como numa tela.
Entrei nos teus corredores,
brinquei com teus bichos,
e teus encantos de criança.

Eu sei exatamente como é o lugar
Que te refugias pra esquecer de mim...

Mas não vais conseguir.






9 de out. de 2009


Ah.... foi o tempo...


Foi aquele raio, aquele tempo...
Fiquei esperando a chuva,
que não te trouxe e nem me lavou a alma.
Eu continuei aqui,
esperando o acerto dos astros,
o amor antigo, de tão antigo,
a solidão já conhecida.

Não me dá a distância e o silêncio !

Me dá um copo d’ água e me prende no teu peito.
Essa sede me deixa crua.

Aquele dia me insinuou uma tristeza.
Uma escuridão de calçadas perdidas
e lâmpadas quebradas.
Fiquei esperando qualquer coisa leve...
Foi o tempo.
O raio.

Dentro de mim, depois,
houveram quedas,
barreiras,
deslizes.

O sol seca a água ,
estanca a dor.


O verão chega logo.

8 de out. de 2009

ESCONDERIJO



Frio.
Luz que vem da rua.
Uma ameaça de medo.
Silêncio.
Umas vontades repetidas e impossíveis.
Coisas de inícios de livros.
Romances.
Umas marcas. Pedaços não cicatrizados.
Coisas de finais de histórias.
Um violão. Umas idéias raquíticas.
Sem formas. Esgotadas.
Uma concentração. Uma tentativa de inspiração.
Coisas que a mão tece, mas não orienta.
Palavras sem ordem, descoordenadas.
Beco com saída sem solução.
Solidão. Tristeza dupla, sem gelo.
Saudade. Vazio. Coisas de estação.
Inverno. Emoções trêmulas. Baixa temperatura.

Desejo com saudade da tua boca. Uma dor.

(me responde... “em que cobertor se escondeu nosso amor” ?)






7 de out. de 2009


. . .


Não possuo bula.
Nem prazo de validade tenho.
De contra-indicações me sinto cheia.
Tudo parece físico,
vem de dentro.
Vou além das posologias e prescrições.

Eu sou dor que vem do vento...

Do motivo que me colocou aqui,
a andar no frio...






O que o tempo muda mas não desfaz.
O que a vida tornou calado.
O que tornamos opaco.
Pouco visto.
Pouco saliente.
Coberto.
Implícito.
O que a mente ajuda
mas não resolve.
O que ficou distante.
O que o dia tornou inexato.
Indefinido.
Desequilibrado.
Pouco provável.
O que a mão suporta
mas não carrega.
O que ficou carente.
Sonhador.
O que o sonho cria
mas não realiza.
O que ficou pra trás.
Adormecido.
Empoeirado.
Sozinho...





Cais do Porto...


EMERGÊNCIA


Eu tenho uma precipitação aguda.
É pra ontem

que eu quero parar de sentir.
Tenho alguns corais extraviados,
e uma dor vizinhando o que eu vejo.
Essas coisas todas assim,

perdidas,
me ensinam o nunca mais.
O nunca mais da mesma entrega,
o nunca mais do mesmo caminho,
do mesmo endereço,
o nunca mais do mesmo mar.
O nunca mais do mesmo beijo,
do mesmo carinho,
do mesmo olhar,
e de tantas palavras no meio do sono,
do sonho,

da noite,
do quarto,
das águas,

da chuva,
das pedras...
O nunca mais de tudo.


Eu tenho essa precipitação aguda sim,
mas não consigo parar de sentir.