23 de jun. de 2009


RETRATO
(Ensaio nas aulas de Matemática e Português)



Sou relativamente fracionária, mas meus instantes são inteiros.
Tenho mil defeitos, opero com radicais,
e minhas expressões são numéricas.
Meu sistema de medidas é inexato.
Me multiplico entre razões, escalas e pouca prática.
Na proporção que me procuro, me divido,
Mas não vejo grandezas proporcionais às minhas regras.
Minhas regras são de dois e inversas.
Tenho variáveis. Incógnitas.
Meus métodos de adição são exagerados.
Sou muito equivocada quando subtraio.
Com o tempo, aprendi a ter gabarito: não traio.
Agora só me calculo depois que me analiso.
Sou um pronome átono.
Tenho crases fechadas. Viradas. Tortas.
Tenho tremas insistentes, minhas flexões não se estendem.
Sou nominal. Primitiva.
Substantivo masculino, me emprego no singular.
Embora eu saiba das desinências e artigos, me conserto no plural.
Sou absolutamente sintética. Tenho terminações ordinais.
Sou verbo irregular mesmo, sem modos.
Tenho indicativos claros pra buscar um amor mais que perfeito.
Imperativa é a inexistência dele.
Então me fragilizo. Não gosto de ser impessoal.
Creio que a segunda pessoa sempre tem preferência,
mas não há regência suficiente para que não haja novos erros.
Os termos da minha oração são diretos,
objetos absolutos de uma fé concreta.
Preciso urgentemente de complementos.
Gostaria muito que minhas separações não doessem,
Que fossem simplesmente silábicas.

2 comentários:

Edike Carneiro disse...

A escrita sempre foi um elo de encanto entre os quereres d'alma e os quereres do corpo... em alguns vira ilha, noutros vira porto... mas é o mesmo mar que banha... Posto isso, quero deixar aqui um beijo , um beijo que navega bem dentro do peito e tatua lá no coração a frase "jamais estarás sozinha". Com o blog, por certo, nos encontraremos mais em nossas linhas. Amo.

Edike

"O que não era intenção virou regra!" disse...

..assim não não vale a familia tda é poesia.. lindooo amei os dois.. Pandinhax