25 de set. de 2009

Medo
Eu tenho esse medo encarcerado em mim.
Uma coisa tonta,
dono das certeza mais vãs,
do amor mais louco.
Me deixa feito um fugitivo.
Às vezes,
muito pouco às vezes,
ele deixa que eu saiba o que minhas mãos carregam.
Às vezes,
quase sempre,
me faz conhecer o que elas desorientam.
Eu não abrigo esse medo porque quero.
Ele chega sempre sem aviso,
sem hora,
se instala feito dono de tudo,
provoca os olhares mais desavisados,
mais perdidos,
vem de forma tão grande
e toma conta,
que não deixa quase nada que possa ser seguro.
O que tenho de seguro
é o que eu sinto e o amor que trago.
Esse medo me invade demais,
em receios,
em perguntas,
em sensações.

Eu não quero mais estar aqui de novo quando ele voltar.


Tenho vontade de te roubar pra mim,
antes que isso tudo te leve.



23 de set. de 2009


QUASE SEMPRE NÃO MOSTRO


Eu sinto tanto,

às vezes,
e quase sempre não mostro.
Tenho horror de me rondar,

de me apertar por dentro.
Sei que preciso fazer alguma coisa,
mas sempre é cedo demais pra enxergar.
O que eu quero é essa paixão que se esconde,

fica me olhando,
me encara quando o corpo anda nú,
me alisa quando o olho anda cego.
Essas coisas me deixam assim,
sem saber onde anda teu caminho,

o que me leva à um lugar mais perto daí.

Preciso te contar coisas minhas.
Me falta nexo,

rítmo,
e me olho sempre de lado...

Me guardo muito por dentro,
eu sei...

mas é assim que eu sinto tanto,
às vezes,
e quase sempre não mostro.

A nossa diferença é simples:
Você não sabe o que quer.
AMOR DE PORTO E ILHA


Ela tenta pesar com a mesma leveza da conquista.
Tenta lados.
Interjeições.
Jeitos.
Fala com as mãos.
Tenta passar a emoção já mais clara,
adormecida.
Sente aflição,
agonia,
tudo porquê não há exposição.
E porque não rasgar tudo,
se já foi aberto o coração ?
Existem mais oceanos
nos olhos de quem já se fez mar pro amor.
Eles marejam,
se molham
e se mostram à deriva de um porto,
perdidos numa ilha.
O medo arde
mas não transcende a descoberta.
E assim,
ela tenta raios,
diâmetros,
medidas.
Tenta a leveza da balança,
a dimensão dos músculos,
o sol no meio de uma cara mais limpa,
mais bonita.
Tenta sugar do espelho as respostas mais claras,
os segredos mais escondidos.
Tenta a conciliação,
ameniza épocas,
compara alguns meios.

E no fim é sempre assim...
a distância ensina...

Amanhã, ela tenta tudo de novo...



22 de set. de 2009

Fazia muito tempo
que não via a folha tão aberta,
me chamando sem cobranças,
me envolvendo assim,
tão sem intenção nenhuma...

Daí sim me dá vontade de me afundar o lápis aqui,
de marcar uma linha ali,
de riscar mais forte com a caneta lá...
Pra entender que o lugar,
em si...
já é nosso,
já sentimos,
já o percebemos,
bebemos,
já tomamos goles dele...
Hoje em mim,
moram esses afetos de mãos,
de letras,
de cantigas e sons,
de vozes e movimentos,
de opiniões e fragmentos,
de propriedades e água.
de ferro, fogo e pimenta de todos os reinos.

Assim eu gosto de tentar entender a vida.
Assim parece possível.

Amanhã,
Passo à limpo tudo...






19 de set. de 2009


Vou recarregar a bateria do celular
e a minha.
Ah, tempo...
Eu sempre com essa vontade,
que estejas correto e preciso.
Vou acreditar e torcer por ti.

Aproveito e me reformo.
Mas sinto agora,
que isso faz parte de um crescimento que ancora,
de um amadurecimento que fica à beira,
que fica no cais...
Eu tô num porto,
aguardo.

Tens tempo sim...
Mas que tu volte breve.

E não de hoje
até nunca mais.

16 de set. de 2009

Aqui embaixo,
MORMAÇO.
Um poema inquieto,
que virou música,
e minha garganta se apropriou dele,
nos recitais do Literatura Café,
na Lagoa da Conceição...


Eu não pedi aquele raio de sol
E nem que a lua me botasse no colo
Eu tinha a terra bem debaixo dos pés
E escutava em mil vozes, teu solo
Te expulso do meu pensamento
Há tempo que eu fujo de ti
Te invado em qualquer momento
Eu apago o que escrevi
Rôo unha, disfarço, acendo um cigarro
Eu fecho meu coração
Se é paixão que eu seja a testemunha
Se é amor que venha o verão
Procuro pensar noutra imagem
Mas te acompanho feito novela
Tens o meu olhar de viagem
E e eu tenho teu olhar de tela
Tenho outro tempo comigo,
Do tempo de alma e abraço
Te dei o meu céu, fui abrigo
Ganhei tua mentira em mormaço




Acordei e fiquei alguns minutos no mesmo lugar.
Fiz café com vontade, pão e manteiga.
Percebi ali,
que o dia chegava diferente hoje.

Estou salivando pensamentos safados...
Inteiros.
Fortes.
Quase cafajestes.
Imensos.
Meus pensamentos hoje tem pele,
beijam,
alisam meus músculos,
me olham,
ficam me seduzindo.
Deixam claro que não estão ali à revelia,
mas não me querem
se eu não buscá-los...

que coisa esses pensamentos...

Aí,
meu andar fica na direção do ouvido,
nos acordes da tua boca.
Minhas horas se preenchem sem que eu note,
minha rua fica bem abotoada,
cheia de cheiro,
sem alinhavos
ou linha pra descosturar...

O dia é maravilhoso sim,
mas é que báh...

hoje acordei diferente.









15 de set. de 2009


O silêncio descansa a gente.
É como a solidão,
faz a gente observar,
escolher outro caminho,
perceber as rasuras,
desafiar a força,
equilibrar as linhas,
apontar somente o lápis,
redesenhar a terra,
respeitar mais os espaços,
utilizar mais o tempo,
reciclar os sentimentos,
validar as senhas,
encostar a porta,
ser paciente pra esperar a paciência chegar...
Se descansa a alma com o silêncio,
aventura-se os riscos,
não se dá as mãos pro perigo,
pro descuido,
pra falta de atenção e zelo.
No silêncio se aprende a amar mais,
ou amar com lucidez,
mais um dia.

Um dia à mais,
é até amanhã...

Não precisa que o sono chegue,
que a temperatura chame,
que o cansaço se apresente...
Não...
O corpo reconhece,
o amor se instala,
o perfume revela,
as mãos orientam
à entrega,
à moldura...

Não é com tinta...
É assim que se pintam "essas" telas...

14 de set. de 2009

Hoje eu silencio.
Meu chamado vem por dentro dos olhos.
não grita com palavras,
não autoriza os verbos.

Mas no silêncio,
aprendi a gritar bem baixinho,
a desprender meu coração.
Aprendi a desnivelar o chão,
a ofertar as mãos,
a oferecer carinho.
Meu cheiro é minha garantia.
O que tenho de melhor,
no meio da mestria dos aprendizes,
é teu.

Eu silencio no meio do barulho do mundo inteiro,
mas também tenho ruas e avenidas.
Também tenho canteiros.

O barulho que eu faço,
aprendi com o mar.

É desse barulho que eu gosto.

Nada nem ninguém silencia melhor que ele.

Parece assim...
O que se vê,
é o que afina a imensidão do olhar.
Exatamente assim...
Se sente o cheiro da saudade,
com areia de praia, de moçambique
com chuva gelada,
com espelhos de calçadas...
Que vontade que dá de fugir do dia,
de morar no sonho,
de mudar o tempo...


Eu tenho uns acordes,

uma notas,
bem no meio dos meus sonhos.
Ando compondo músicas que o destino destapa,
que teus olhos devoram,
que teus sinais me relatam,
que teu silêncio me chama...

Esses dias que passaram

se refugiaram todos no meu violão.
Dia desses, te canto.